Porque no Brasil é tão dificil ser um Doutor?

26/03/2011 03:08

Olá a todos,

Este é o primeiro artigo escrito por mim mesmo que publico em meu site, vergonhosos não? mas é assim mesmo me falta tempo para escrever algo por aqui, mas nunca é tarde para começar, portanto sem mais delongas vamos lá!!!

Eu pretendo neste artigo tentar expressar a minha opinião sobre o pouco que sei, observo, leio ou participo do que se entende por ciência brasileira. Antes que alguém ache que eu não sou ninguém para estar falando de ciência perdoe-me o atrevimento, mas acho que posso sim falar um pouco sobre ciência. Por algum tempo eu não entendi o porquê de tanta dificuldade para se pesquisar no Brasil, hoje eu ainda custo a acreditar que seja um problema somente de escala menor (alunos, professores e Universidade). No entanto começo a acreditar que as mudanças que eu acredito serem essenciais para alavancar a ciência brasileira só serão possíveis se nós alunos, pesquisadores, Universidades e afins nos mobilizarmos para mudarmos a nossa postura. Eu explico.

Hoje nós nos deparamos com a seguinte estrutura de ensino superior.

Aluno: O Aluno se dedica ou tenta se dedicar ao ensino para fazer um vestibular e com muito esforço entrar em uma faculdade de qualidade. Alguns sofrem mais (escolas públicas) outros um pouco menos (escolas particulares) isto porque historicamente o ensino público tem decaído impossibilitando que alunos consigam disputar vagas nos cursos mais concorridos. Para tentar “solucionar” foram criadas as cotas para negros que para muito deveriam ser para alunos de baixa renda, desta forma envolveriam alunos pobres sejam brancos, negros, indígenas ou estrangeiros vindos da África ou America Latina.

Professores (Pesquisadores): Após anos de dedicação em suas pós-graduações muitas vezes no exterior o ex-aluno se torna pesquisador. Ao chegar a seu departamento se depara com a realidade, falta de estrutura e financiamento. O salário já não é o maior problema da classe, apesar de ainda estar aquém de sua dedicação e esforços.

Universidade: As Universidades brasileiras (Municipais, Estaduais, Federais ou particulares) enfrentam fortes dificuldades principalmente estruturais, laboratórios aquém das necessidades do país, como fazer pesquisa de primeiro mundo sem equipamentos de primeiro mundo? Afinal de contas o Brasil investe a anos na formação de seus professores com Doutorado e Pós Doutorado no exterior. Mas como um pesquisador colocar em pratica todo seu conhecimento sem laboratórios e verbas suficientes?

A partir deste panorama eu gostaria de mostrar para vocês a opinião de um grande cientista brasileiro que certamente me inspirou a escrever este artigo seu nome Miguel Nicolelis, talvez pelo nome vocês não se lembrem de quem se trata; não se preocupe eu refrescarei sua memória. O Dr.Nicolelis é o brasileiro mais cotado a ganhar o prêmio Nobel atualmente, e há anos tem se dedicado na Universidade de Duke nos Estados Unidos ao tratamento de mal de Parkinso, ganhador de 38 prêmios internacionais Nicolelis decidiu construir na cidade de Natal capital do Rio Grande do Norte um dos mais modernos Institutos de Neurociências do Mundo financiado por doações estrangeiras; é o Brasil não ajudou no começo, mas em fim esse é o Nicolelis. No final do ano passado ele divulgou um manifesto chamado “Manifesto da Ciência Tropical: Uso democrático da ciência para transformação social e econômica do Brasil”. Irei tentar resumir os principais tópicos deste manifesto (Os textos eu tirei de parte da entrevista dada por Nicolelis ao Jornalista Luiz Carlos Azenha):

“Ao pensar o futuro da ciência no Brasil, boa parte dos pesquisadores brasileiros volta os olhos, automaticamente, sem pestanejar, para Estados Unidos, Europa e Ásia”.

“É essa Ciência Tropical que vai possibilitar à humanidade manter e ampliar suas fontes de energia limpa, produzir alimentos e água potável necessários para bilhões de seres humanos”

“Também cultivar biomas naturais, de onde extrairemos novos medicamentos e curas para inúmeras doenças, preservar os serviços climáticos e ecológicos que manterão em cheque o aquecimento global e identificar novos agentes infecciosos capazes de destruir, numa única epidemia, toda a raça humana.”

É indispensável também investir pesado em ciência e tecnologia. “O investimento maciço em novas formas de explorar petróleo em alta profundidade foi que capacitou a Petrobras a ser o que ela é hoje”

“E isso é apenas a ponta do iceberg. A Ciência Tropical vai ditar a agenda mundial neste século XXI.”

“Ninguém constrói uma nação com 10 mil pessoas de um bairro da cidade de São Paulo. Você precisa de todo o país”

“É esse casamento da saúde pública, particularmente a da mulher e a da primeira infância, com a educação que precisa ser feito. A revolução educacional começa na barriga da mãe.”

Para implementar essa revolução educacional, Nicolelis defende que o ideal seria unir a filosofia do educador Paulo Freire (1921-1997) com a de Alberto Santos-Dumont (1873-1932), inventor do voo controlado. Também que, do ponto de vista científico, os nossos parceiros estratégicos não são mais os Estados Unidos, Europa ou Ásia, mas a África e a América Latina. “Pode parecer paradoxal, mas é a pura verdade”

O manifesto contém 15 tópicos que indicam que para termos uma ciência de primeiro mundo devemos começar a estimulá-la desde a infância e adolescência criando um programa de educação cientifica publica. Criando centros nacionais de formação de Professores de Ciência. Criando uma carreira de pesquisador científico em tempo integral nas universidades federais. Criando 16 Institutos Brasileiros de Tecnologia espalhados pelo país. Criando 16 Cidades da Ciência. Criando um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia. Criando oito “Cidades Marítimas” ao longo da costa brasileira. Retomando a Expansão do Programa Espacial Brasileiro. Criando um Programa Nacional de Iniciação Científica. Investimento de 4-5% do PIB em ações de ciência e tecnologia na próxima década. Reorganização das agências federais de fomento à pesquisa. Criando um joint ventures para produção de insumos e materiais de consumo para prática científica dentro do Brasil. Criando o Banco do Cérebro. Ampliando o incentivo a bolsas de doutorado e pós-doutorado dentro e fora do Brasil. Recrutamento de pesquisadores e professores estrangeiros dispostos a se radicar no Brasil. Para quem quiser ver a integra segue: IINN-ELS.

Eu sempre me perguntei por que se formar em um Doutor tem que ser tão difícil? Tentei me dar algumas respostas como:

1 - Um Doutor tem que ter um conhecimento muito profundo sobre o assunto para poder pesquisar sobre o mesmo. Isso é obvio.

No entanto o que eu encontrei na pós-graduação é uma dificuldade que vai além do conhecimento. As maiores dificuldades hoje encontrada por um aluno de pós-graduação se resumem a métodos antiquados, na minha humilde opinião. Um aluno de Doutorado precisa desenvolver a aptidão a pesquisa caso ele ainda não tenha, ou seja, ele precisa aprender a se virar “sozinho”, quando digo isso me refiro ao estudante ter a capacidade de pesquisar na literatura sem o auxilio de um instrutor, orientador e etc. O orientador serve para direcionar o caminho que ele precisa trilhar dar o suporte, responder quando ele não souber.

Desta forma eu fico imaginando a necessidade de Disciplinas obrigatórias nos cursos de Doutorados, entenda eu me refiro às obrigatórias. Exemplo: Imaginemos um aluno graduado em Agronomia que fez mestrado em irrigação. Ele teve em sua grade curricular disciplinas gerais na graduação e especificas no mestrado. No mestrado desenvolveu uma pesquisa na área de irrigação, possivelmente até mesmo repetindo disciplinas vistas na graduação sobre seu tema de pesquisa. A pergunta é: se ele for fazer Doutorado em irrigação porque ele tem que ser obrigado a fazer disciplinas? Acredito que um aluno como este tem que ter a capacidade de buscar na literatura suas respostas e não pensar que nesta altura do campeonato ele ainda precise de aulas. Não irei falar aqui a minha opinião sobre os métodos de ensino (provas, provas e provas) que não mede conhecimento nenhum.

Pois bem, isso quer dizer que eu não quero que haja disciplinas no Doutorado? Em parte sim, no entanto salvaguardando os casos que realmente precise como alunos que mudam de áreas por causa da interdisciplinaridade existente, neste caso ele teria as disciplinas ministradas no Mestrado para assistir como ouvinte. Temos exemplos Europeus bem claros, em muitos Institutos da Alemanha, por exemplo, as disciplinas foram substituídas por cursos de verão que trás para os alunos algo que é primordial para alunos de pós a PRÁTICA chega de teoria e mais teoria nada melhor que aprender com a prática, escolas de verão são excelentes métodos para trazer esta pratica.

Após cursar as disciplinas os doutorandos em muitos cursos de pós no Brasil têm uns testes conhecidos como qualificação, integrado e etc. Cada departamento tem sua metodologia de aplicação, uma prova que julga ter o objetivo de avaliar se os alunos têm conhecimento suficiente para ser um Doutor. Ai vem à pergunta: um aluno com graduação, mestrado e cursando Doutorado no mesmo instituto precisa provar que tem conhecimento suficiente para ser um Doutor? Como assim? Somos incapazes de te dar conhecimento por isso quero saber se você aprendeu sozinho? Pois bem.

Se fizermos um calculo simples nos deparamos com o seguinte: 1 ano de disciplina somado a uns 4 meses de dedicação a qualificação equivalem ai a mais ou menos 1 ano e meio em que o aluno não se dedicou aos seus objetivos, se colocarmos ai férias recessos e feriados arredondando grosseiramente um aluno de Doutorado perde quase que 2 anos de seu curso fazendo qualquer coisa menos a sua tese. Temos 4 anos de bolsa quando começamos a pesquisar já estamos atrasado 2 anos, conseqüência disso? Atraso no termino do Doutorado, e os que terminam no prazo? São verdadeiros mágicos!!! Isso pode acarretar num nível de tese abaixo do esperado, mas não falarei sobre isso. E ainda precisam publicar um artigo científico em revistas com excelente qualificação.

Muitos devem estar perguntando, nossa então os recém doutores formados no Brasil são os melhores do mundo? Sim, nos temos sim alguns dos melhores pesquisadores do mundo, mas se olharmos os recém doutores nós somos iguais ou em alguns casos inferiores aos recém doutores da Europa por exemplo. Mas como eles não têm disciplinas no doutorado nem qualificação, integrado e etc e ainda conseguem ser melhores que nós. Porque eles tiveram um ensino de qualidade na infância? Não. Durante o doutorado um aluno Europeu participa de projetos e campanhas que possibilitam aplicar seus conhecimentos diariamente, levando a um maior aprendizado e conseguem se dedicar a seus objetivos e o mais importantes transformarem seus resultados e artigos científicos.

O Dr. Nicolelis diz que precisamos investir em uma nova geração de brasileiros com interesse em ciência. Eu concordo plenamente, mas precisamos mudar o formato de ensino de pós-graduação no Brasil.

Dificuldade não significa qualidade, portanto a minha sugestão é a seguinte:

1-       Precisamos “facilitar” a formação de Doutores no Brasil, substituindo disciplinas por cursos práticos (escolas de verão) e estudo dirigido onde os alunos poderão colaborar com a pesquisa dos Professores do departamento tanto aprendendo com ajudando os pesquisadores;

2-       Acabar com qualificação e integrado e qualquer prova que tenha o objetivo de julgar conhecimento de Doutorando. O que qualifica um Doutorando é a sua PESQUISA retirando esses artifícios o mesmo pode publicar mais artigos e essa será a prova da sua capacidade como pesquisador, PUBLICAÇÃO.

Com essas duas mudanças é possível ter Doutores sendo formado em 3 anos de curso, isso acarretaria em Doutores com 27 no máximo 29 anos de idade e não um patamar de recém formados com quase 40 anos. Sim quanto mais novo for o recém formado, mas tempo de pesquisa em alto nível ele terá.

Realmente eu posso estar falando um monte de bobagem e por isso preço desculpas, mas a verdade é que o formato de ensino de pós-graduação brasileira, principalmente de Doutorado, dificulta e atrasa a formação de novos profissionais. Hoje eu ainda sou aluno amanhã espero ser um formador de opinião e assim poderei sair das palavras para a atitude. Para terminar uma ultima frase do Dr. Nicolelis.

Albert Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq, porque ele não preenche todos os pré-requisitos – número de orientandos de mestrado, de doutorado…Se Einstein não poderia estar no topo, há algo errado

Boa Sorte e Bom Trabalho a Todos.

Cristiano Prestrelo

 

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